segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Entrevista com Nancy Fraser


"Fraser, que no Brasil é conhecida pelo debate com o também filósofo Axel Honneth, começa dizendo que há hoje em dia diferentes formas de conflitos sociais. Além de questões de redistribuição, levantadas tradicionalmente pelos movimentos de classe, há conflitos de outra ordem, envolvendo novos movimentos sociais, como o feminismo. Em seus textos, Fraser os caracteriza como movimentos por reconhecimento. Por fim, diz ela na entrevista, o fenômeno conhecido por "globalização" trouxe novos desafios: o de organizar essas reivindicações em diferentes níveis. Hoje não é mais possível ficar apenas no nível local e nacional. Questões envolvendo o meio ambiente, por exemplo, precisam ser tratadas em um nível mais amplo.

Essas novas formas de conflito demandam um novo tipo de crítica, não apenas centrada, como no modelo marxista, em uma contradição específica, ou voltada apenas para um agente emancipador, como a classe trabalhadora. O entrevistador pergunta então se esses novos movimentos sociais, ao contrário, não estariam morrendo. Ela diz que, na prática, os movimentos foram afetados pela "Guerra ao Terror", ou melhor, pela resposta dada pelo governo americano ao 11 de setembro. Isso mostrou como é fácil "fabricar" "inimigos", diz ela."
http://www.politikaetc.info/2010/02/entrevista-com-nancy-fraser.html

O Mito da Beleza P2.

Livro O Mito da beleza de Naomi Wolf
http://pt.scribd.com/doc/528573/Naomi-Wolf-O-mito-da-beleza

"Pesquisas recentes revelam com uniformidade que em meio à maioria das mulheres que trabalham, têm sucesso, são atraentes e controladas no mundo ocidental, existe uma subvida secreta que vem envenando nossa liberdade: imersa em conceitos de beleza, ela é um escuro filão de ódio a nós mesmas, obsessões com o físico, pânico de envelhecer e pavor de perder o controle."

"Não é por acaso que tantas mulheres potencialmente poderosas se sentem dessa forma. Estamos em meio a uma violenta reação contra o feminismo que emprega imagens da beleza feminina como uma arma política contra a evolução da mulher: o mito da beleza."

"Ele é a versão moderna de um reflexo social em vigor desde a Revolução Industrial. À medida que as mulheres se liberaram da mística feminina da domesticidade, o mito da beleza invadiu esse terreno perdido, expandindo-se enquanto a mística definhava, para assumir sua tarefa de controle social."

"A reação contemporânea é tão violenta, porque a ideologia da beleza é a última das antigas ideologias femininas que ainda tem o poder de controlar aquelas mulheres que a segunda onda do feminismo teria tornado relativamente incontroláveis. Ela se fortaleceu para assumir a função de coerção social que os mitos da maternidade, domesticidade, castidade e passividade não conseguem mais realizar. Ela procura neste instante destruir psicologicamente e às ocultas tudo de positivo que o feminismo proporcionou às mulheres material e publicamente. Essa reação opera com a finalidade de eliminar a herança deixada pelo feminismo, em todos os níveis, na vida da mulher ocidental."

"Paralelamente, o peso das modelos de moda desceu para 23% abaixo do peso das mulheres normais, aumentaram exponencialmente os distúrbios ligados à nutrição e foi promovida uma neurose de massa que recorreu aos alimentos para privar as mulheres da sua sensação de controle."

"As mulheres devem querer encarná-la, e os homens devem querer possuir mulheres que a encarnem. Encarnar a beleza é uma obrigação para as mulheres, não para os homens, situação esta necessária e natural por ser biológica, sexual e evolutiva. Os homens fortes lutam pelas mulheres belas, e as mulheres belas têm maior sucesso na reprodução. A beleza da mulher tem relação com sua fertilidade; e, como esse sistema se baseia na seleção sexual, ele é inevitável e imutável. Nada disso é verdade. A "beleza" é um sistema monetário semelhante ao padrão ouro. Como qualquer, sistema, ele é determinado pela política e, na era moderna no mundo ocidental, consiste no último e melhor conjunto de crenças a manter intacto o domínio masculino. Ao atribuir valor às mulheres numa hierarquia vertical, de acordo com um padrão físico imposto culturalmente, ele expressa relações de poder segundo as quais as mulheres precisam competir de forma antinatural por recursos dos quais os homens se apropriaram."

""A "beleza" não é universal, nem imutável, embora o mundo ocidental finja que todos os ideais de beleza feminina se originam de uma Mulher Ideal Platônica. O povo maori admira uma vulva gorda, e o povo padung, seios caídos.""

"O fato de as mulheres competirem entre si através da "beleza" é o inverso da forma pela qual a seleção natural afeta outros mamíferos. A antropologia rejeitou a teoria de que as fêmeas teriam de ser "belas" para serem selecionadas para reprodução. Evelyn Reed, Elaine Morgan e outros autores refutaram afirmativas da sociobiologia no sentido de a poligamia masculina e a monogamia feminina serem inatas.São as fêmeas dos primatas superiores que tomam a iniciativa sexual. Elas não só procuram e desfrutam do sexo com muitos parceiros,como também "toda fêmea não-prenhe tem a sua vez de ser a mais desejável de todo o grupo. Esse ciclo não pára enquanto ela estiver viva".Dizem os especialistas em sociobiologia que os órgãos sexuais cor- de-rosa e inflamados das primatas seriam análogos às atitudes humanas relacionadas à beleza feminina, quando na verdade essa característica da fêmea primata é não hierárquica e universal."

"Se o mito da beleza não se baseia na evolução, no sexo, no gênero, na estética, nem em Deus, no que se baseia então? Ele alega dizer respeito à intimidade, ao sexo e à vida, um louvor às mulheres. Na realidade ele é composto de distanciamento emocional, política, finanças e repressão sexual. O mito da beleza não tem absolutamente nada a ver com as mulheres. Ele diz respeito às instituições masculinas e ao poder institucional dos homens"
"As qualidades que um determinado período considera belas nas mulheres são apenas símbolos do comportamento feminino que aquele período julga ser desejável. O mito da beleza na realidade sempre determina o comportamento, não a aparência. A juventude e (até recentemente) a virgindade foram "bonitas" nas mulheres por representarem a ignorância sexual e a falta de experiência. O envelhecimento na mulher é "feio" porque as mulheres adquirem poder com o passar do tempo e porque os elos entre as gerações de mulheres devem sempre ser rompidos. As mulheres mais velhas temem as jovens, as jovens temem as velhas, e o mito da beleza mutila o curso da vida de todas. E o que é mais instigante, a nossa identidade deve ter como base a nossa "beleza", de tal forma que permaneçamos vulneráveis à aprovação externa, trazendo nosso amor-próprio, esse órgão sensível e vital, exposto a todos."

" O mito da beleza, em sua forma atual, ganhou terreno após as convulsões sociais da industrialização, quando foi destruída a unidade de trabalho da família e a urbanização e o incipiente sistema fabril exigiam o que os técnicos em ciências da época chamaram "esfera isolada"de domesticidade, que sustentava a nova categoria do " 'ganha-pão", aquele que saía de casa para o local de trabalho todos os dias. Houve uma expansão da classe média, um progresso no estilo de vida e nos índices de alfabetização, uma redução no tamanho das famílias. Surgiu uma nova classe de mulheres alfabetizadas e ociosas. Da submissão dessas mulheres à domesticidade forçada, dependia a evolução do capitalismo industrial. A maioria das nossas hipóteses sobre a forma pela qual as mulheres sempre pensaram na "beleza" remonta no máximo a 1830, quando se consolidou o culto à domesticidade e inventou-se o código da beleza."

"Ajudar as mulheres a desestruturar o mito é, no entanto, algo do próprio interesse dos homens em um nível mais profundo. A próxima será a vez deles. Os anunciantes recentemente perceberam que o enfraquecimento da confiança sexual funciona seja qual for o sexo do consumidor. SegundoTheGuardian, "os homens estão preferindo olhar para o espelho do que para as garotas. Homens lindos podem ser vistos hoje em dia vendendo de tudo..." Usando imagens da subcultura homossexual masculina, a propaganda começou a retratar o corpo masculino num mito da beleza próprio. Conforme essas imagens se concentram mais na sexualidade masculina, elas prejudicarão o amor-próprio sexual dos homens em geral. Como os homens têm um condicionamento ainda maior para se separarem dos seus corpos, e para competir em níveis de excesso desumanos, seria concebível que a versão masculina pudesse prejudicar os homens ainda mais do que a versão feminina prejudicou as mulheres. Alguns psiquiatras estão prevendo um aumento nas estatísticas masculinas de distúrbios da alimentação. Agora que os homens estão sendo vistos como um mercado virgem a abrir as suas portas do ódio de si mesmo, começaram a surgir imagens que dizem aos homens heterossexuais as mesmas meias-verdades, sobre o que as mulheres querem e como elas vêem, tradicionalmente transmitidas às mulheres heterossexuais a respeito dos homens. Se eles caírem nessa armadilha e ficarem presos, isso não será uma vitória para as mulheres. Na realidade, ninguém sairá ganhando."




quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Texto final - Cultura da droga, construção identitária e preconceito

Apresento agora meu texto final, após tres meses de pesquisas em fontes textuais e audiovisuais, como documentários por exemplo. Agora exponho aqui uma entrevista de um amigo, João da Silva, que tem por objetivo questionar se a cultura da droga estabelece realmente um consenso entre as sensações e construções feitas pelos usuários através da socialização. As declarações encontraram pontos de encontro e de conflito com o discurso por vezes pregado como verdade de que os usuários de droga são apoiadores de políticas que visam a trazer para a legalidade o consumo de maconha, ou mesmo o comércio da droga.

É possível também observar a construção identitária do sujeito que utiliza droga ante seu grupo social, e a mudança de percepção do usuário ao longo do tempo. Essas duas observações são importantes para a compreensão da cultura da droga e sua difusão com o objetivo de melhor entendimento das autoridades nas políticas voltadas ao usuário e ao traficante.

O documentário "Quebrando o Tabu" mostra que o Estado falhou na luta contra as drogas, e que a descriminalização, e após um tempo a legalização da maconha seria uma maneira sensata de conter o avanço do tráfico e da violência, que hoje não são vistos apenas nos grandes centros urbanos.

Com isso exponho aqui uma entrevista com um grande amigo que me fez revelações com muita naturalidade, confiança e respeito. Portanto espero que em minha edição eu tenha trabalhado de forma a preservar esses aspectos. Boa Leitura!

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Apresento agora meu texto final, após tres meses de pesquisas em fontes textuais e audiovisuais, como documentários por exemplo. Agora exponho aqui uma entrevista de um amigo, João da Silva, que tem por objetivo questionar se a cultura da droga estabelece realmente um consenso entre as sensações e construções feitas pelos usuários através da socialização. As declarações encontraram pontos de encontro e de conflito com o discurso por vezes pregado como verdade de que os usuários de droga são apoiadores de políticas que visam a trazer para a legalidade o consumo de maconha, ou mesmo o comércio da droga.

O documentário "Quebrando o Tabu" mostra que o Estado falhou na luta contra as drogas, e que a descriminalização, e após um tempo a legalização da maconha seria uma maneira sensata de conter o avanço do tráfico e da violência, que hoje não são vistos apenas nos grandes centros urbanos.

Com isso exponho aqui uma entrevista com um grande amigo que me fez revelações com muita naturalidade, confiança e respeito. Portanto espero que em minha edição eu tenha trabalhado de forma a preservar esses aspectos. Boa Leitura!

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Esse texto se inicia com as declarações de meu entrevistado, João da Silva*, mostrando uma perspectiva que me surpreendeu, visto que imaginava exposições de ideias bem contrárias do que obtive. Minhas expectativas, baseadas em construções midiáticas, como estatísticas, e também construções ideológicas baseadas em senso comum me lavaram a um engano pré entrevista.

Numa conversa de msn pedi autorização ao meu amigo, João da Silva, para colher declarações acerca de suas experiências com drogas, que aceitou sob uma condição: não expor seu nome no trabalho. Como demonstração de amizade e respeito os nomes utilizados neste texto foram alterados para preservar a identidade de meu entrevistado.

Logo que chego em sua casa sua mulher, Sonia*, está no portão conversando com uma senhora da vizinhança. Após a conversa, ela coloca o carro na garagem e eu a ajudo a levar as despesas pra dentro da casa.

Após cerca de dez minutos meu entrevistado chega, tinha ido comprar óleo lubrificante para seu carro, portanto percebo que não seria uma entrevista convencional, baseada em perguntas e respostas fechadas, se tratava de uma conversa entre amigos, porém com um objetivo, sendo atingido entre uma interrupção e outra para ajuste do automóvel.

“Comecei a fumar maconha aos treze anos de idade por influência de amigos. Meu pai tinha saído de casa deixando minha família endividada e eu comecei a trabalhar, a maconha era uma forma de me trazer uma sensação agradável de forma barata. Se o cara não quer gostar então nem experimenta, porque é muito bom.” Apesar de citar o abandono da família por parte do pai, João não estabelece uma relação entre a saída do pai de casa e sua iniciação com a maconha. “Passei por muita coisa triste na infância, mas isso não tem ligação com o uso da maconha”.

“Eu queria ser o cara, naquela época era diferente, os amigos influenciavam a gente, mas porque faziam escondidos, a gente nunca tinha certeza e isso incitava a curiosidade. Hoje é tudo aberto, qualquer lugar você vê. E naquela época a gente usava pra pegar as meninas, elas achavam o máximo.” Nesta, evidencio a crítica do entrevistado sobre o conflito de gerações, João tem pouco mais de quarenta anos de idade e julga que sua experiência foi em um contexto diferente do contexto atual, bem como a maconha “daquela época era bem diferente da atual”. João explica a diferença do que fumava no início para o que fuma atualmente:
“Naquela época a maconha era bem mais forte, hoje em dia eu fumo mato, tinha uma que o pessoal chamava de cabeça de nego, essa aí era mais forte que a hidropônica. Hoje em dia prefiro a hidropônica, o ruim é o preço, um baseado por cinco reais, enquanto a normal você compra três ou quatro baseados pelo mesmo preço.
Tem uma história engraçada, por volta de 1985 tinha um cargueiro trazendo carregamento de maconha dentro de latas e iria aportar no litoral do Paraná, mas aí eles avistaram a Guarda Costeira que tava vindo pra cima deles. Não tiveram dúvidas: abriram as comportas e soltaram as latas no mar. Olha, até em praias do Rio Grande do Sul apareciam essas latas! Fui muitas vezes pra achar, mas a polícia tava em cima e eu acabei comprando, foi umas das melhores qualidades de maconha dessa nova geração que eu já experimentei. Era a maconha da lata, como ficou conhecida.”

Perguntado sobre a relação de sua família com ele e o uso de drogas, João não hesitou em dar um longo depoimento, não só narrando os acontecimentos e curiosidades, mas realizando uma análise crítica de sua postura e de sua família ante as consequências de sua condição de usuário e o preconceito e aceitação por parte de seus familiares.

“Antes de eu fazer dezoito anos meu pai já desconfiava, sabe como é, pelo uso da maconha o cara fica meio lerdo, não presta muita atenção nas coisas. Já depois dos dezoito eu não precisava esconder nada da minha família. Isso porque eu sempre sustentei meu vício com meu trabalho, meu suor, eu que me fodia pra bancar. Nunca tirei nada de casa pra trocar por droga[...] sempre tive consciência do que eu tava fazendo.
Na época que me acidentei – João sofreu um acidente de trabalho, caindo de uma construção, que o fez perder os movimentos das pernas – todos que sabiam que eu usava droga me acusavam de estar chapado na hora do serviço, mas aquele dia eu não tinha bebido nada nem fumado, acho que foi por isso que me acidentei (risos) [...]
Isso porque a maconha desperta em você, algumas características, na época que eu trabalhava na fabricação de móveis, alguns empregados ficavam putos porque, por exemplo, eles se matavam e produziam vinte peças, eu ficava na boa, fumava meu baseado tranquilo na hora do almoço, quando eu voltava eu produzia o dobro deles, foi uma época que eu ganhei muito dinheiro [...] Então se você é um cara criativo, ela vai despertar a criatividade, ela vai ficar mais aguçada, por exemplo."

Durante esta fala, percebo que ele menciona o álcool, então pergunto se ele é ou já foi adepto de outros tripos de drogas. Um pouco hesitante João declara que até os trinta e oito anos também cheirava cocaína, mas que já vinha querendo parar de usar, então conheceu sua esposa, Sônia, que o ajudou a parar.

“Então, cara, minha sequência foi: da maconha pro álcool, do álcool pra cocaína, porque é assim: a maconha te deixa relaxado, tranquilo, te traz uma sensação de bem-estar, já a cocaína te deixa agitado e traz instintos não bons, você pensa em roubar por exemplo[...]. Acontece que você tem seu estado normal, então usa a cocaína pra ficar agitado e usa a maconha pra ficar tranquilo, você acaba ficando no estado normal, entende? Eu tive essa consciência na época. Eu via tanta gente, amigos meus crescendo na vida, trabalhando, formando família. E os que estavam pior que eu estavam morrendo, acho que foram essas coisas que não me deixaram afundar de vez, sabe?
Então a maconha meio que me tirou da cocaína, porque eu sempre estava cheirando ou bebendo, então quando conheci a Sonia joguei bem limpo com ela, falei tudo que acontecia comigo, dos meus vícios e ela me ajudou também [...]
Uma vez eu fui comprar droga no morro e a polícia apareceu, os traficantes não recuaram e começou o tiroteio, eu dentro do carro no meio do fogo cruzado e o policial encostando a arma na minha cabeça mandando eu descer[...] deu um desespero, sorte que consegui manobrar o carro e saí correndo de lá.
Outra coisa que me fez tomar consciência do que eu tava fazendo foi que eu peguei uma puta, porque a Sônia sabe que eu sempre gostei de puta, tu come, paga e não precisa ficar ligando no dia seguinte, nem levar pra casa, é bem profissional mesmo [...] Então, ela tava no carro e resolveu fumar crack. Ela abriu uma frestinha do vidro e eu abri meu vidro inteiro, então ela acendeu o cachimbo... só o cheiro já liberou adrenalina em mim. Eu tentava tocar nela ela se afastava com os olhos arregalados e puxava todo o ar da fresta do vidro. Ah vendo aquilo eu abri a porta e mandei ela embora [...]
Então eu acho que por ter visto essas coisas eu fui vendo o que tava acontecendo comigo, e acho que foi por isso que não me afundei no crack também, porque eu tenho certeza que eu iria procurar coisas mais pesadas.
Se é que eu posso chamar de ponto positivo, na época que eu vivia em Porto Alegre ninguém me roubava. Eu era bem famoso por lá, conhecia gerentes e patrões.
Teve uma vez que me roubaram dez reais, eu cheguei pra um amigo meu mais graduado e falei que aquilo não podia acontecer, que eu tava sendo lesado. Ele encontrou o cara e na minha frente fez o cara se ajoelhar, encostou a arma na cabeça dele e me perguntou se eu queria ele vivo ou morto. Já meio assustado falei: 'Não, cara só quero meus dez reais' – e ele deu uma coronhada na cabeça do cara, xingou ele e deu outra na cara, chegou a arrancar um dente. E eu la falando pra ele ter calma que eu só queria meus dez reais. Ele soltou o cara que saiu correndo e voltou com meus dez reais.”

A partir disso João deu um encaminhamento para o fechamento da entrevista contando um pouco de sua trajetória como vendedor de maconha, como faz o uso da droga atualmente e o que pensa sobre as políticas anti-drogas e a legalização da maconha.

“Olha, Icaro, já trafiquei sim, mas em pequenas quantidades. Eu era patrão, o segundo na linha de recepção, repassava pra um gerente que vendia num lugar. Mas isso tudo não passava de dois quilos de maconha, era bem pouca coisa.
Eu fiz por necessidade, foi logo depois do meu acidente. Eu precisava de dinheiro, e não tinha como, então acabei entrando no ramo da venda de maconha também. E olha, foi um negócio bastante rentável,passei dois anos vendendo. Mas sabe o que acontece? Todo dinheiro que entra, sai com a mesma rapidez. Eu pagava rodada no buteco pros amigos, vivia gastando com mulher e gastava com mais droga também. Além disso meus amigos só vinham em casa porque queriam comprar e usar maconha.
Teve uma vez que eu cheguei em casa com dois quilos de maconha e guardei no armário, minha mãe entrou no quarto e já berrou: 'Mas já ta fumando de novo?!',e nem era meu aquilo, não tinha usado, mas aquilo lá fechado já exalava muito cheiro.
Mas o que fez eu parar de vender foi uma vez que a polícia me pegou, a sorte é que eu tava sem nada e eles não podiam me prender. Lembro que cheguei em casa e tirei tudo do meu armário, parei de vender e consumir droga por três meses, eu saía de casa e via carro estacionado, eles estavam em cima de mim, me monitorando mesmo, foi aí que parei de vender.
Também tem o preconceito da família, teve uma vez que eu levei uma picada de mosquito bem em cima de uma veia, minha mãe viu, agarrou meu braço e me acusou de injetar cocaína. Até sarar aquilo lá ela ficou bem desconfiada, mas eu nunca injetei, já vi e achei horrível, então não entrei nessa.
Então vendo essas coisas eu comecei a regredir no uso. Cheguei no meu limite e estou regredindo.
Hoje não me considero um viciado, uso a maconha para ficar sem a dor nas costas por causa do acidente, pra me acalmar mesmo, e esquecer da dor. E agora que eu descobri que ajuda no combate à pressão alta é por isso também (risos). Mas estou reduzindo, antes eu fumava cinquenta gramas por semana, hoje tem dia que eu nem fumo.
Também não aconselho ninguém a usar, é uma grana que você perde, que poderia estar fazendo outras coisas; indo ao teatro. Hoje eu penso assim, mas antigamente se me falassem de teatro ... (gargalhadas).
Também sou contra a legalização, o Brasil não está preparado pra isso. Se liberar vira algazarra. Eu não quero ter um drogado fumando maconha na frente do meu portão e não poder falar nada porque ele ta na legalidade, tem muita criança por aí que seria incentivada. Daí me dizem que cigarro e álcool também são liberados. Por mim, não seria, se eu pudesse, álcool e cigarro também seriam ilegais."


Depois das formalidades da entrevista sua mulher, Sonia, aparece na sala comentando histórias de quando ela foi para Amsterdã, que apesar de liberado o consumo não se via pessoas fumando nas ruas, e que ela se mostra a favor da legalização justamente para barrar um pouco do preconceito contra usuários. Nessa hora João intervém e afirma que o usuário perde muita credibilidade, visto que as pessoas não confiam nas capacidades da pessoa que utiliza droga.

Sônia também afirma que João disse em confissão ao padre da região que era usuário de maconha, e que o padre aceitou de forma mais respeitosa visto a condição de cadeirante de João e as dores físicas causadas por isso, mas João intervém novamente dizendo que depois da confissão o casal parou de ser convidado para as festas religiosas.

Com isso termino meu trabalho dizendo que atualmente as políticas anti-drogas estão mais voltadas ao preconceito contra o usuário, do que focando na prevenção e tratamento dos mesmos. Esse tipo de política deve ser alterado tendo em vista as cada vez mais comuns manifestações em apoio à descriminalização e legalização da maconha.

Se o Brasil tem pretenção de ampliar sua democracia e partir para descriminalização e legalização do uso da maconha devem ser tomadas medidas preventivas e não de preconceito acerca do tema. É necessário ampliar o sistema jurídico, político e de saúde antes de legalizar. O jurídico para não tratar usuário como criminoso, o político para regulamentar e normatizar as práticas de venda e uso da maconha, e o sistema de saúde para oferecer tratamento adequado aos que necessitam de apoio médico.





*Os nomes utilizados foram alterados para preservar a identidade do entrevisdo e demais participantes

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Algumas leituras de hoje, Miss 2011 e Misoginia

--Texto 1:

"Hoje de manha eu vi no portal do Yahoo! um link falando das candidatas a Miss Brasil 2011 que nao tem silicone. Abri, conferi e como nao estava fazendo nada mesmo, fui ver as fotos das-todas-as-candidatas.

E pasmei!

Simplesmente NENHUMA candidata negra.

Todas as candidatas seguindo um padrao que tornou muito dificil para mim estabelecer algum criterio de beleza, uma vez que todas as candidatas tem cabelos castanhos, longos, lisos/semi-ondulado/permanente visivel, e pele clara. Nao tem nenhuma candidata negra. Nem a Miss Bahia eh negra, levando-se em consideracao que uma boa parcela da populacao negra se localiza no estado bahiano. Nem ela.

Ao ver essas mulheres representarem o “padrao de beleza da mulher brasileira” destacado no concurso Miss Brasil 2011, acho impossivel nao pensar em racismo, especialmente quando 50,3% dos 184 milhoes de brasileiros sao negros(e pardos) (fonte aqui)

Racismo velado tipico da sociedade brasileira, infelizmente.

Ah! MAs importante lembrar que a Miss Noruega 2010 era… NEGRA! "

Miss Noruega

Fonte
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--Texto 2:
"A análise que faço do machismo hoje no Brasil, e talvez na América Latina, é de que ele é um tipo de misoginia. O machismo nosso hoje é uma aversão pelo feminino. "
"Odiamos o feminino na medida em que exaltamos o masculino. Aprendemos que ser masculino é mais importante que ser feminino. Ser masculino é prestigioso. Também criamos toda uma concepção do que é ser feminino. Ser feminino é ser sentimental, é ser frágil, é ser sensível, entre muitas outras coisas."
"Portanto, ser feminino não é apenas possuir uma vagina. Mas quem possui uma vagina sofre em dobro, porque se espera dessas pessoas um comportamento feminino. Essa forma de machismo se manifesta por todos os lados e inclusive dentro dos movimentos de minorias. "
"O gay afeminado também pode vir a sofrer deste preconceito dentro do próprio coletivo do qual faz parte, porque os gays não afeminados podem estar inseridos nessa lógica do machismo."" Mas o engraçado disso tudo é que os gays percebem que eles são oprimidos pela sociedade heteronormativa. Os gays podem perceber que o machismo os oprime. Mas eles podem não percebem que até eles mesmo são opressores quando lhes toca. O machismo só é percebido quando se infringe uma norma heterossexual: a de que homens se relacionam com mulheres. Contudo, o machismo não é percebido quando ele infringe uma conduta homonormativa: o de que gays devem ser masculinos. "

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Mais um adentro, desta vez meu:
As Miss Brasil de praticamente todos os tempos(existe algumas exceções...) são muitooooo iguais, não existe variedade, é como se fala-se "olha mulher, vc tem que ser assim para ser bonita" , e com isso muitas mulheres ficam insatisfeitas com seu corpo, ja que se coloca um modelo (que coincidentemente é o modelo de mulher das classes mais ricas) para as outras mulheres, claro que isto não é so para mulheres, mas elas são mais afetadas por esta cobrança já que existe uma logica machista(uma de muitas logicas machistas, a desta vez é a de que...homens são validados por atitudes, e mulheres por aparência).
Alem disto, qual o motivo de um concurso de beleza? Dizer qual é a mulher mais bonita do pais,
se neste concurso, praticamente todas as candidatas são iguais, então isto seria claramente uma tentativa de inserir um padrão de beleza.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Acordo entre visões diferentes

Bia e eu discutimos sobre a formação moral de um sujeito, A Bia tem uma visão católica e eu uma visão agnóstica, ou seja 2 visões bem divergentes, porem entramos em um consenso sobre como uma criança poderia ser criada.
Em nosso sociedade, a visão hétero normativa é incentivada constantemente para as crianças( em filmes, em novelas e tudo quanto é mídia, por exemplo, quanto de imagens uma criança vê de um homem e mulher se beijando? muitas né), e alem disto a visão homoafetiva é constantemente usada como forma de humor ou aberração ,porem não é vista como uma visão valida ou normal, mas constantemente caricaturada em programas de humor.
Eu acredito que existe um forte fator genético no homossexualismo, porem muitos vem argumentar comigo, que a sociedade também afeta essas "escolhas",( eu não vejo onde? se fosse por isso todo mundo era hétero ja que só existe incentivo para a hétero normatividade ) mas mesmo assim, o fator genético não é tudo, existe outros fatores que influenciam também, porem quando você incentiva a visão de que o homossexual é uma aberração esta escolha gera um arrependimento no homossexual ja que ele se sente culpado por ser diferente.
baseado nisto Eu e a Bia, entramos em um acordo,que para que a criação de uma criança seja dada esta "escolha", a criança tem que ter contato com grande numero de visões diversas, para que ela não tenham preconceito em relação ao desconhecido e já comece a ver estas outras pessoas como normais.
Este caso não se aplica só a homossexualidade, mas a outras culturas e etc. porem a Bia argumentou que é impossível ter contato com todos os tipos de culturas, e eu vou contra esta ideia dizendo que a pessoa teria que ter contato com as que ela teria a maior chance se conetar.
Então acabamos entrando nesse consenso . O mundo tem varias visões de mundo, muitas delas rivais, para que o mundo diminua os conflitos de crença, é necessário uma maior comunicação entre as culturas, para que o foco não seja a diferença entre elas, mas as coisas em comum.

Um exemplo de discussão entre pessoas com crenças totalmente diferentes que chegam à um acordo em comum é esta:

http://textosparareflexao.blogspot.com/2011/06/transcendencia.html

(o texto acima é sobre os "Diálogos de Waldemar Falcão, Marcelo Gleiser e Frei Betto em "Conversa sobre a fé e a ciência” (Ed. Agir)".)

Trechos do texto:
"
[4] Reparem que Frei Betto acaba de concordar com Gleiser no sentido de não aceitarmos a existência de verdades finais, acabadas, absolutas – ou, pelo menos, de não aceitarmos que já chegamos a sua compreensão completa. Todos aqueles que seguem manuais de verdades absolutas talvez ficassem atônitos ao saber que grandes religiosos e eclesiásticos, católicos como Frei Betto ou Pe. Fábio de Melo, antes consideram manuais de dúvidas divinas do que de verdades absolutas – embora todos os conheçam pelo mesmo nome. Onde há dúvida, há busca pela transcendência."
"
Frei Betto – Como soube fazer isso muito bem o apóstolo Paulo, que disse “fui grego com os gregos e judeu com os judeus”. Há uma briga explícita na Carta aos Gálatas, uma das 13 cartas contidas no Novo Testamento e que são consideradas sagradas pela Igreja Cristã, que Paulo escreveu, nas quais critica duramente Pedro. E Pedro era o papa! Pedro achava que para ser cristão o pagão deveria, primeiro, passar pelos ritos judaicos: circuncisão, observação dos ritos de pureza, etc. Paulo chega a dizer que Pedro é um homem de duas caras. Não conhecemos a resposta de Pedro, mas sabemos que Paulo viveu um momento da Igreja em que, pelo amor à Igreja, se podiam expressar críticas até ao papa, não tinha essa coisa de “amém” para toda forma de autoridade, achando que a autoridade é portadora da verdade. Muitas vezes ela falseia a verdade [7]."

Smorfs são sexistas?

o principio smorfette

O vídeo fala sobre o teste de Bachdel que é

  1. Existe mais de 2 mulheres no filme?,
  2. Elas falam entre si?,
  3. Elas falam de algo que não seja sobre homens?.
Se um filme responder Sim a estas 3 perguntas, ele não transmite ideias que reforção o patriarcado (claro que existe exceções).

sábado, 16 de julho de 2011

A regionalização da intolerância religiosa no Brasil

As discussões sobre intolerância religiosa no cenário atual têm tomado tanto espaço tão grande nas relações sociais que uma boa iniciativa foi realizada pelo governo brasileiro: a criação de um documento inédito que sistematiza casos de desrespeito à liberdade de culto no país. O estudo detalhado da ocorrência dos casos de discriminação religiosa auxilia na melhor divulgação do combate a essas práticas preconceituosas nas regiões mais afetadas, além de elencar quais são os principais fatores que movem atitudes de desrespeito no ciclo de convivência nas diversas religiões existentes.

A matéria completa sobre o documento pode ser vista a partir do link a seguir:
Outro programa para o combate a intolerância religiosa no Brasil, criado pelo Ministério de Cultura - Ministério da Educação - Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Secretaria Especial de Direitos Humanos, foi a divulgação e distribuição gratuita de um DVD para todo o Brasil sobre “Diversidade Religiosa e Direitos Humanos” visando a busca pelo fim da discriminação por crença.

Trechos do vídeo podem ser acessados a partir dos links a seguir:

Parte 1


Fonte:

Parte 2


Fonte:

A identificação do problema que leva a intolerância religiosa já está sendo realizada, será então que precisamos da maior divulgação de documentos e pesquisas como essas, além de ver a aplicação dessa teoria na prática para que ocorra a extinção desse preconceito?