segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O Mito da Beleza P2.

Livro O Mito da beleza de Naomi Wolf
http://pt.scribd.com/doc/528573/Naomi-Wolf-O-mito-da-beleza

"Pesquisas recentes revelam com uniformidade que em meio à maioria das mulheres que trabalham, têm sucesso, são atraentes e controladas no mundo ocidental, existe uma subvida secreta que vem envenando nossa liberdade: imersa em conceitos de beleza, ela é um escuro filão de ódio a nós mesmas, obsessões com o físico, pânico de envelhecer e pavor de perder o controle."

"Não é por acaso que tantas mulheres potencialmente poderosas se sentem dessa forma. Estamos em meio a uma violenta reação contra o feminismo que emprega imagens da beleza feminina como uma arma política contra a evolução da mulher: o mito da beleza."

"Ele é a versão moderna de um reflexo social em vigor desde a Revolução Industrial. À medida que as mulheres se liberaram da mística feminina da domesticidade, o mito da beleza invadiu esse terreno perdido, expandindo-se enquanto a mística definhava, para assumir sua tarefa de controle social."

"A reação contemporânea é tão violenta, porque a ideologia da beleza é a última das antigas ideologias femininas que ainda tem o poder de controlar aquelas mulheres que a segunda onda do feminismo teria tornado relativamente incontroláveis. Ela se fortaleceu para assumir a função de coerção social que os mitos da maternidade, domesticidade, castidade e passividade não conseguem mais realizar. Ela procura neste instante destruir psicologicamente e às ocultas tudo de positivo que o feminismo proporcionou às mulheres material e publicamente. Essa reação opera com a finalidade de eliminar a herança deixada pelo feminismo, em todos os níveis, na vida da mulher ocidental."

"Paralelamente, o peso das modelos de moda desceu para 23% abaixo do peso das mulheres normais, aumentaram exponencialmente os distúrbios ligados à nutrição e foi promovida uma neurose de massa que recorreu aos alimentos para privar as mulheres da sua sensação de controle."

"As mulheres devem querer encarná-la, e os homens devem querer possuir mulheres que a encarnem. Encarnar a beleza é uma obrigação para as mulheres, não para os homens, situação esta necessária e natural por ser biológica, sexual e evolutiva. Os homens fortes lutam pelas mulheres belas, e as mulheres belas têm maior sucesso na reprodução. A beleza da mulher tem relação com sua fertilidade; e, como esse sistema se baseia na seleção sexual, ele é inevitável e imutável. Nada disso é verdade. A "beleza" é um sistema monetário semelhante ao padrão ouro. Como qualquer, sistema, ele é determinado pela política e, na era moderna no mundo ocidental, consiste no último e melhor conjunto de crenças a manter intacto o domínio masculino. Ao atribuir valor às mulheres numa hierarquia vertical, de acordo com um padrão físico imposto culturalmente, ele expressa relações de poder segundo as quais as mulheres precisam competir de forma antinatural por recursos dos quais os homens se apropriaram."

""A "beleza" não é universal, nem imutável, embora o mundo ocidental finja que todos os ideais de beleza feminina se originam de uma Mulher Ideal Platônica. O povo maori admira uma vulva gorda, e o povo padung, seios caídos.""

"O fato de as mulheres competirem entre si através da "beleza" é o inverso da forma pela qual a seleção natural afeta outros mamíferos. A antropologia rejeitou a teoria de que as fêmeas teriam de ser "belas" para serem selecionadas para reprodução. Evelyn Reed, Elaine Morgan e outros autores refutaram afirmativas da sociobiologia no sentido de a poligamia masculina e a monogamia feminina serem inatas.São as fêmeas dos primatas superiores que tomam a iniciativa sexual. Elas não só procuram e desfrutam do sexo com muitos parceiros,como também "toda fêmea não-prenhe tem a sua vez de ser a mais desejável de todo o grupo. Esse ciclo não pára enquanto ela estiver viva".Dizem os especialistas em sociobiologia que os órgãos sexuais cor- de-rosa e inflamados das primatas seriam análogos às atitudes humanas relacionadas à beleza feminina, quando na verdade essa característica da fêmea primata é não hierárquica e universal."

"Se o mito da beleza não se baseia na evolução, no sexo, no gênero, na estética, nem em Deus, no que se baseia então? Ele alega dizer respeito à intimidade, ao sexo e à vida, um louvor às mulheres. Na realidade ele é composto de distanciamento emocional, política, finanças e repressão sexual. O mito da beleza não tem absolutamente nada a ver com as mulheres. Ele diz respeito às instituições masculinas e ao poder institucional dos homens"
"As qualidades que um determinado período considera belas nas mulheres são apenas símbolos do comportamento feminino que aquele período julga ser desejável. O mito da beleza na realidade sempre determina o comportamento, não a aparência. A juventude e (até recentemente) a virgindade foram "bonitas" nas mulheres por representarem a ignorância sexual e a falta de experiência. O envelhecimento na mulher é "feio" porque as mulheres adquirem poder com o passar do tempo e porque os elos entre as gerações de mulheres devem sempre ser rompidos. As mulheres mais velhas temem as jovens, as jovens temem as velhas, e o mito da beleza mutila o curso da vida de todas. E o que é mais instigante, a nossa identidade deve ter como base a nossa "beleza", de tal forma que permaneçamos vulneráveis à aprovação externa, trazendo nosso amor-próprio, esse órgão sensível e vital, exposto a todos."

" O mito da beleza, em sua forma atual, ganhou terreno após as convulsões sociais da industrialização, quando foi destruída a unidade de trabalho da família e a urbanização e o incipiente sistema fabril exigiam o que os técnicos em ciências da época chamaram "esfera isolada"de domesticidade, que sustentava a nova categoria do " 'ganha-pão", aquele que saía de casa para o local de trabalho todos os dias. Houve uma expansão da classe média, um progresso no estilo de vida e nos índices de alfabetização, uma redução no tamanho das famílias. Surgiu uma nova classe de mulheres alfabetizadas e ociosas. Da submissão dessas mulheres à domesticidade forçada, dependia a evolução do capitalismo industrial. A maioria das nossas hipóteses sobre a forma pela qual as mulheres sempre pensaram na "beleza" remonta no máximo a 1830, quando se consolidou o culto à domesticidade e inventou-se o código da beleza."

"Ajudar as mulheres a desestruturar o mito é, no entanto, algo do próprio interesse dos homens em um nível mais profundo. A próxima será a vez deles. Os anunciantes recentemente perceberam que o enfraquecimento da confiança sexual funciona seja qual for o sexo do consumidor. SegundoTheGuardian, "os homens estão preferindo olhar para o espelho do que para as garotas. Homens lindos podem ser vistos hoje em dia vendendo de tudo..." Usando imagens da subcultura homossexual masculina, a propaganda começou a retratar o corpo masculino num mito da beleza próprio. Conforme essas imagens se concentram mais na sexualidade masculina, elas prejudicarão o amor-próprio sexual dos homens em geral. Como os homens têm um condicionamento ainda maior para se separarem dos seus corpos, e para competir em níveis de excesso desumanos, seria concebível que a versão masculina pudesse prejudicar os homens ainda mais do que a versão feminina prejudicou as mulheres. Alguns psiquiatras estão prevendo um aumento nas estatísticas masculinas de distúrbios da alimentação. Agora que os homens estão sendo vistos como um mercado virgem a abrir as suas portas do ódio de si mesmo, começaram a surgir imagens que dizem aos homens heterossexuais as mesmas meias-verdades, sobre o que as mulheres querem e como elas vêem, tradicionalmente transmitidas às mulheres heterossexuais a respeito dos homens. Se eles caírem nessa armadilha e ficarem presos, isso não será uma vitória para as mulheres. Na realidade, ninguém sairá ganhando."




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