domingo, 19 de junho de 2011

O medo de ser feminista e o blacklash

"Embora o contra-ataque antifeminista não seja um movimento organizado, nem por isto deixa de ser destrutivo. Com efeito, a falta de coordenação, a ausência de uma única liderança só servem para torná-lo menos visível — e talvez mais eficiente. Um backlash contra os direitos da mulher tem sucesso na medida em que parece não ter conotações políticas, na medida em que se mostra como tudo, menos uma luta. Ele é tanto mais poderoso, quanto mais consegue transformar-se numa questão privada, penetrando na mente da mulher e torcendo a sua visão para dentro, até ela imaginar que a pressão está toda na cabeça dela, até ela começar a impor as regras do backlash a si mesma."

"Nos anos 80, o backlash andou pelos subterrâneos secretos da cultura, circulando pelos corredores da bajulação e do medo. Ao longo do caminho usou vários disfarces: desde a máscara de uma condescendente ironia até a expressão sofrida da "profunda preocupação". Os seus lábios demonstram piedade por qualquer mulher que não se enquadre na moldura, enquanto procura prendê-la na moldura. Professa uma estratégia de cizânia: solteiras contra casadas, mulheres que trabalham fora contra donas-de-casa, classe média contra operárias. Manipula um sistema de punição e recompensa, enaltecendo as mulheres que seguem as suas regras, isolando as que desobedecem. O backlash revende velhos mitos sobre as mulheres fazendo-os passar por fatos novos, ignorando qualquer apelo à razão. Acuado, nega a sua própria existência, levanta um dedo ameaçador contra o feminismo e procura desaparecer nos subterrâneos."

"Culpar o feminismo pela “vida inferior” das mulheres significa não entender nada do movimento feminista, que se propõe oferecer às mulheres um leque maior de experiências. O feminismo continua sendo um conceito bastante simples, apesar das repetidas — e extremamente eficazes — tentativas de pintá-lo com cores sombrias transformarem suas defensoras em verdadeiras gárgulas. Como escreveu Rebecca West ironicamente em 1913: “Eu mesma nunca cheguei a entender direito o que quer dizer feminismo: só sei que as pessoas me chamam de feminista toda vez que expresso sentimentos que me diferenciam de um capacho.”"

"O sentido da palavra “feminista” nada mudou desde que apareceu pela primeira vez numa resenha literária publicada na Athenaeum, em 27 de abril de 1895, descrevendo uma mulher que “tem nela a capacidade de lutar para chegar à sua própria independência.” É a proposta básica feita por Nora, há um século, em Casa de bonecas, de Ibsen, “antes de mais nada, eu sou um ser humano.” É simplesmente o cartaz que uma mocinha segurava em 1970 durante a Greve das Mulheres pela Igualdade: EU NÃO SOU UMA BONECA BARBIE. O feminismo pede que o mundo finalmente reconheça que as mulheres não são elementos decorativos, biscuits preciosos, membros de um “grupo de particular interesse”. Elas são metade (mais da metade, de fato, agora) da população nacional, tão merecedoras de direitos e de oportunidades, tão capazes de participar dos acontecimentos mundiais quanto os homens. O programa feminista é muito simples: pede que as mulheres não sejam forçadas a “escolher” entre justiça pública e felicidade privada. Pede que as mulheres sejam livres para definir a si mesmas — em lugar de terem a sua identidade definida pela cultura e pelos homens que as cercam."
Fonte:
"Backlash: the undeclared war against American women p21 e p22"

Vale lembrar que pequenos grupos realmente se organizam contra o feminismo, e usam o humor para ridicularizar as lutas feministas atualmente.

alguns links interessantes:
sobre um comentário, de uma das organizadoras da marcha das vadias
http://quecazzo.blogspot.com/2011/06/vadia-sim-feminista-nao.html
e so para concluir um post do blog pessoal da prf. lola aronovich da UFC sobre a marcha das vadias.

vale lembrar que o blocklash não acabou, ele está ainda forte hoje em dia e atua de diversas formas fazendo com que não so o feminismo mas os movimentos sociais sejam vistos como extremistas, afinal é preferível extremistas dos direitos humanos do que pacifistas contrario a esses direitos essenciais.

Um comentário:

  1. Gostaria de parábenizar os colegas pelo Blog. E divulgar o meu projeto também. Segue o link: http://explosaodediversidade.blogspot.com/

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